09/01/2010

Fim do ponto G ?

Desde que o ginecologista alemão Ernst Gräfenberg mencionou pela primeira vez um ponto G (uma alusão ao nome dele), nos anos 50, a busca por esse suposto ponto localizado entre a vagina e a uretra, que seria capaz de proporcionar prazer sexual intenso, virou uma obsessão para muitas mulheres – e homens também. Os pesquisadores, por sua vez, tentam comprovar se ele existe mesmo ou não. O mais recente estudo diz que não, o ponto G não existe. Foi feito pelo King’s College, em Londres, na Inglaterra, com mais de 1,8 mil gêmeas, de 23 a 83 anos. Para a psicóloga luso-suíça Andrea Burri, que liderou a pesquisa, as conclusões da pesquisa podem “libertar” quem sofre por não atingir os orgasmos intensos do ponto G.

ISTOÉ – Como chegaram à conclusão de que o ponto G não existe?
Andrea Burri – Mandamos um questionário para gêmeas idênticas (que compartilham 100% dos genes) e fraternas (50%), perguntando se elas acreditavam ter um “ponto G”. Se ele fosse mesmo um traço anatômico, a descoberta de uma base genética para ele seria crucial. Mas não a encontramos. E, se fosse da anatomia, algo tão fácil de achar, por que mais de 60% das mulheres ainda lutam para encontrá- lo? Fatores externos como a performance do parceiro é que parecem influenciar a opinião das mulheres sobre a existência desse ponto.

ISTOÉ – O que dizer das mulheres que afirmam tê-lo encontrado?
Andrea – Elas encontraram realmente o ponto G ou são apenas mais suscetíveis ao estímulo sexual? Tenho certeza de que um número alto de mulheres tem uma área da vagina particularmente receptiva a estímulos, mas, se essa é uma área definida em todas as mulheres, essa pergunta ainda não tem resposta. Há mulheres que são capazes de ter orgasmo só com a estimulação dos seios, mas não existe um “ponto seio”.

ISTOÉ – Qual é a importância de se estudar o “ponto G”?
Andrea – Se houvesse evidências convincentes de que ele realmente existe, as técnicas para encontrá-lo poderiam ser ensinadas e isso ajudaria muitas mulheres com dificuldade para ter orgasmos. E, se for comprovado que ele não existe, livra homens e mulheres da pressão e do sentimento de inadequação. Em vez de passar tanto tempo na busca de um mito, os parceiros deveriam investir seu tempo e seu esforço na busca do que cada um deles gosta.

ISTOÉ – Como a sra. explica a crença da existência do ponto G, mesmo sem comprovação científica?
Andrea – É um fenômeno explorado inclusive comercialmente, basta ver como a cirurgia plástica explora essa crença. A ciência quando prova a não existência de um fenômeno nunca é tão interessante.

ISTOÉ – O estudo é conclusivo?
Andrea – Nosso estudo é uma grande evidência no debate sobre o ponto G. No entanto, nenhuma conclusão definitiva pode ser tirada ainda e essa pesquisa precisa ser replicada, usando métodos mais refinados.

ISTOÉ – Quais?
Andrea – Os futuros estudos deveriam ser focados em métodos que permitam acessar a anatomia, como a ultrassonografia, numa base populacional a mais ampla possível. Porém, duvido que encontraremos uma conclusão definitiva. O ponto G se transformou numa controvérsia e talvez isso seja tudo o que ele é.

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