24/02/2010

Prisioneiro político cubano morre após 83 dias de greve de fome

Preso desde 2003 por "desacato", "desordem pública" e "desobediência", o ativista político cubano Orlando Zapata Tamayo, de 42 anos, iniciou uma greve de fome em 3 de dezembro do ano passado, em protesto contra o tratamento recebido na prisão. A greve terminou na tarde desta terça-feira (23), 83 dias depois, de forma trágica. Zapata Tamayo estava na UTI do hospital para prisioneiros Combinado del Este, em Havana, com um quadro de pneumonia e infecção generalizada. Ele teria sido transferido às pressas para o Hospital Cimeq, também na capital cubana, mas não resistiu.

A confirmação da morte foi dada a ÉPOCA pela mãe dele, Reina Luisa, por telefone: "Meu filho morreu às 15h05 (horário de Havana). Foi um assassinato premeditado", afirmou ela, em referência às condições carcerárias oferecidas pelo governo cubano. O sentimento de Reina não era de tristeza, mas sim de indignação. "Até o túmulo do meu filho vou levar isso comigo e o mundo precisa saber. O governo de Cuba foi responsável pela morte dele." Segundo Reina, o corpo será levado para a casa da família em Banes, na província cubana de Holguín.

Pedreiro e encanador, Zapata Tamayo foi preso pela primeira vez em 2002, quando fizera greve de fome em apoio a prisioneiros do regime castrista. Solto em 7 de março de 2003, ele seria novamente detido 13 dias depois, durante a onda brutal de repressão a dissidentes que ficou conhecida como Primavera Negra, em que 75 pessoas foram para a cadeia. Condenado a 36 anos, Tamayo estava na penitenciária Kilo 8, em Camaguey, mas teve de ser transferido para um hospital em Havana por conta do agravamento de seu estado de saúde. Lá, estava recebendo soro à revelia.

A morte de Zapata Tamayo deve aumentar a pressão dos grupos locais de direitos humanos sobre a situação dos cerca de 300 presos políticos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a Havana na noite desta terça-feira, em uma visita de dois dias que inclui encontros com o presidente Raúl Castro e o ex-líder Fidel Castro. Cinquenta dos 75 detidos da Primavera Negra divulgaram uma carta em que pedem a Lula uma interlocução com os Castros em defesa da libertação dos prisioneiros.

O enterro do prisioneiro deve ocorrer só amanhã, mas já há uma expectativa de que se torne um ato político contra o regime. A mãe dele, Reina, faz parte das Damas de Branco, um grupo de mulheres (mães, irmãs, esposas) que defendem o "Grupo dos 75" da Primavera Negra. Ela afirmou que não havia planejado nada para o enterro do filho, mas disse que a morte dele não passará impune. "Não vou aceitar uma morte anunciada como essa."

No Twitter, os principais dissidentes cubanos lamentavam a morte de Zapata Tamayo. A blogueira Yoani Sánchez, impedida de sair de Cuba, escreveu: "Isso não pode ficar assim." Em seguida, avisou que o telefone de seu apartamento havia ficado mudo. "Uma forma de evitar que nos inteiremos da indignação generalizada pela morte de Zapata Tamayo."

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