27/02/2010

Cearense que brilhou na Olimpíada de Inverno se irrita com especulações sobre seu passado

Numa cidade em que a temperatura média é 30 graus de janeiro a dezembro, um esporte sobre o gelo prendeu as atenções da população
nas últimas semanas. O município de Sobral, no Ceará, parou para acompanhar a Olimpíada de Inverno em Vancouver, no Canadá.Todas as atenções estavam voltadas para uma modalidade em especial – a patinação artística. O desejo era conhecer e prestigiar o atleta sobralense Florent Amodio, 19 anos, que competiu pela França, país em que vive desde 1 ano de idade, quando foi adotado. Amodio terminou em 12o na classificação geral, excelente resultado para alguém tão jovem. E, se ganhou destaque no evento internacional, em Sobral virou celebridade. Um grande fã-clube de 180 mil habitantes, que não falam de outra coisa. Até quatro supostas mães biológicas já reivindicam a maternidade do atleta. Alheio ao oba-oba, o patinador não está feliz com as especulações que remexeram em seu passado. “São nojentas essas histórias que surgiram no seu país”, disse o patinador, na terça-feira 23. “Meus pais de verdade estão na França.” A mágoa de Amodio, que sabe de sua adoção desde pequeno, veio à tona ao perceber sua vida tão exposta. Em Sobral, por exemplo, ninguém sabia quem ele era até os Jogos de Inverno.

Delfina dos Santos suposta mãe biologica

Antes disso, numa entrevista concedida a um site de patinação artística, em julho de 2009, o rapaz – que também tem nacionalidade brasileira –, demonstrava afeto pelo lugar de nascimento. Sobre a única visita que fez ao Brasil, em 2008, afirmou: “Foi uma grande experiência. Descobri meu país.” No depoimento, deixou claro, porém, que sempre representaria em disputas a nação que o acolheu. “O Brasil está no meu coração. Mas minha vida inteira está na França.” A primeira mulher a aparecer dizendo ser mãe de Amodio foi a merendeira Delfina dos Santos, 38 anos. Encontrada pela Rede Record, que transmite a Olimpíada de Vancouver, ela não fazia ideia do paradeiro do menino, então chamado Thiago, que entregou para adoção alegando falta de condições para criá-lo. “Eu era mãe solteira e corria o risco de ser despejada de casa”, disse Delfina à reportagem da ISTOÉ na quarta-feira 24, quando esteve em São Paulo a convite da emissora. Ela diz que foi a filha, que assistia à competição, quem reconheceu o irmão. “Na tevê disseram que ele era de Sobral e adotado por franceses. Tive certeza de que era o Thiago.” Delfina diz que recebeu fotos do filho enviadas pelos pais adotivos, mas, após mudar de casa, perdeu o contato.
Restou uma imagem do garoto numa festa da escola, aos 4 anos. Seria sua única prova de que Thiago e Florent são a mesma pessoa, além da data de nascimento – 12 de maio de 1990. Apesar de desejar um reencontro, a merendeira não tem ilusões. “Ele não entenderia que fiz o melhor naquela situação. Acho que não vai querer saber de mim.” Outra suposta mãe seria a dona de casa Rosa Marlene de Oliveira, 45 anos. Ela afirma ter entregado seu bebê na mesma época para um casal francês, porque já tinha uma filha e a mãe, que a sustentava, havia morrido num acidente de carro. “Coloquei a foto dele do lado da tevê. É igual a meu filho”, diz. Ela tem um registro da adoção, mas o nome da criança que consta no documento é Maximen Florien. A história de Amodio escancara as cicatrizes emocionais daqueles que são deixados pelos pais. E também relembra o ato desesperado de milhares de mulheres que, massacradas pela pobreza, aceitam se separar dos filhos. A população de Sobral, sinceramente orgulhosa, só espera que seu novo ídolo não rejeite seu carinho.

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